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Os espiões (In)visíveis – Invasão de Privacidade?

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Rui Natal CONTEÚDO EM DESTAQUE

Há alguns dias veio a público a notícia de uma empresa italiana que criou manequins para espionar os perfis, reações, hábitos e costumes de seus Clientes visando definir ou ajustar estratégias de venda mais efetivas. Para as empresas, isso significa, seguramente, que mais dados estão se somando à parafernália de dados não estruturados e de diferentes fontes que se somam para compor esse tal de Big Data. E elas (empresas) que busquem meios ou que se aperfeiçoem e se habilitem a tratar tudo isso.

Problema delas... Só delas?

Pois é, só que para nós isso pode ser interpretado de várias formas diferentes: evolução da tecnologia, aprimoramento da outra parte para entender e satisfazer melhor nossos gostos e preferências, praticidade, mais um passo na automação de atividades e processos, ou, quem sabe, invasão de privacidade (???)

Entendo que para muitos, uma notícia dessas até assusta. E pensar que quando surgiram os primeiros aparelhos de TV com controle remoto ficamos felizes da vida; “ mas olha só: nem precisamos mais levantar da poltrona para mexer no volume ou mudar de canal ”. Que colosso! E com certeza não imaginávamos que os desdobramentos pelos avanços da Tecnologia e dos recursos e mecanismos de Comunicação atingissem a abrangência e os patamares da atualidade.

Como se não bastassem estas muitas facilidades e funcionalidades disponibilizadas para todos nós através dos avanços da tecnologia e das comunicações, e com as quais interagimos praticamente o dia todo, eis que começam a falar sobre uma tal de Internet das Coisas... das Coisas???

Confesso que às vezes penso que e stamos(ão) nos transformando em "mulas" em função desse transporte clandestino e muitas vezes involuntário de dados e informações, que se somam aos já famosos e estabelecidos recursos / mídias de comunicação e de interoperabilidade, como os smartphones, os tablets, e tantos outros artefatos. E não podemos esquecer das ruas e dos estabelecimentos comerciais nos enquadrando em suas câmeras, cada vez em maior número.

Já temos notícia da disponibilidade de óculos “inteligentes”, relógios “inteligentes”, e a chegada de peças do vestuário, com as tecnologias “vestiveis” ou “usáveis” (“wearables”). Como se já não bastasse, somos surpreendidos agora com a chegada destas "bellas ragazzas", essas moçoilas italianas que, como diz Caetano Veloso, "...com seus olhinhos infantis, como os olhos de um bandido..." nos filmam e nos estudam sob os mais diferentes ângulos para nos entender e atender, mas que, em verdade, satisfazem os desejos de vendas e de faturamento de terceiros. Parece até a história da Pizzaria Google que roda pela Internet, e que tudo sabe sobre seus Clientes; relembra preferências, singularidades, temperos, comidas, bebidas, últimos pedidos, hábitos, ...E o impressionante é a velocidade com que estes "avanços" e suas intromissões - que se prenunciam vindo a reboque - estão ocorrendo.

E assim a nossa imaginação vai longe...

Estive em uma missa no Colégio São Bento e fiquei imaginando se em pouco tempo, ao repetir esta cena, e quando fizesse a genuflexão para me confessar, o padre (real ou virtual?) provavelmente já iria entregar, impressa, a minha penitência, informando que ela havia sido transmitida e compilada a partir dos muitos bens e utensílios “vestíveis” que possuo e que já haviam registrado todos os meus deslizes fossem por pensamentos, palavras ou obras.

Será que estamos caminhando a passos largos para o domínio da Internet da Coisas (“Internet of Things”), com estes pseudo anõezinhos fantasiados de “chips” metendo o bedelho onde não são chamados? Com os inúmeros eletrodomésticos e aparelhos à nossa volta fofocando sobre nossos hábitos? Os itens de uso pessoal, doméstico e “vestíveis” observando e monitorando nossas ações e hábitos de consumo?

Meu Deus, como será o perfil do outrora ser humano em plena segunda metade do século XXI?

Sim, aquele que andava pelas ruas, que frequentava padarias, quitandas, sapateiros, papelarias, aquele que cumprimentava e fazia graça com o amigo jornaleiro, que fazia “bilu bilu” no queixo da criancinha filha de seu vizinho?

A coisa caminha para que ele provavelmente tenha dedos super ágeis e desenvolvidos de tanto pressionar teclinhas cada vez menores, e de tanto arrastar ícones em telas cada vez mais congestionadas.

É isso mesmo?

E fico imaginando como será seu aperto de mão por conta destes dedos ágeis e fortes; aliás... nem preciso me deter pensando nisso, pois os encontros serão virtuais, e essas interações gostosas pelas ruas e esquinas já serão coisa do passado.

Às vezes me flagro pensando... puxa, e stá ficando muito chato viver com (sob) todos esses fios, chips, sensores, microfones e câmeras reais ou virtuais que invadem nossa privacidade, e que roubam nossa solidão, mas não nos fazem companhia.

Eh, já começa a bater aquela saudade...

Abraços e até a próxima.
Rui Natal 

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