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É bom aprender com os erros mas é ainda melhor aprender com os erros dos outros

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Bruno Horta Soares CONTEÚDO EM DESTAQUE
É importante aprendermos com nossos próprios erros, e ainda melhor aprender com os erros dos outros

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Consultório Portal GSTI #27 – “É bom aprender com os erros mas é ainda melhor aprender com os erros dos outros”

Caros leitores,

nesta semana participei de um debate sobre o ensino onde foi feita uma referência às duas principais linhas da filosofia clássica: a de Platão e a do seu discípulo Aristóteles.

Mas o que é que isto tem a ver com Tecnologia da Informação? Quem trabalha num departamento de TI sabe bem que em regra geral existe pouco tempo para “filosofias”, sobretudo porque na maior parte das vezes os “porquês” são ultrapassados a grande velocidade pelos “já está pronto?” . No entanto, talvez seja por (de)formação profissional, mas muitas vezes acabo fazendo comparações e encontrando pontos de ligação entre aquilo que se passa no mundo e a vida dentro de um departamento de TI . Desta vez não foi diferente!

Há um ponto comum entre estes dois filósofos e a maior parte dos profissionais de TI que eu conheço: aquilo que mais os estimulam, na filosofia e na tecnologia da informação, é o sentimento de assombro e admiração . No entanto, apesar de contemporâneos, os dois filósofos acabaram por defender duas linhas distintas de pensamento filosófico que de certa forma também caracterizam duas das principais linhas de pensamento que frequentemente encontro junto de responsáveis de TI quando toca a escolher abordagens para melhoria do sistema de informação .

Escola de Atenas
Escola de Atenas

A famosa imagem “ A Escola de Atenas ”, de Rafael, resume em grande medida aquilo que para Platão e Aristóteles era mais importante no campo do conhecimento. Apontando para cima, Platão defendia o Inatismo e para ele a essência das ideias e o verdadeiro conhecimento  apenas poderia ser atingido através do raciocínio e da indução . Por outro lado, Aristóteles defendia o Empirismo, ou seja as ideias e o conhecimento são adquiridos através da experiência , assumindo que os sentidos são mais importantes que o raciocínio e a mente, motivo pelo qual é representado com a mão para baixo.

Tendo como princípio estas linhas gerais, qual será a melhor linha filosófica para defender num departamento de TI ?

Eu aqui me assumo como um seguidor de Aristóteles, ou pelo menos um acérrimo defensor da adoção de boas práticas em vez de ideias que buscam uma realidade concreta em cada sistema de informação .

Cada vez mais as Organizações têm de estar focadas na criação de valor para os seus stakeholders e não se podem dar ao luxo de terem responsáveis de TI que ao invés de apresentarem soluções ágeis perdem mais tempo em questionar a origem das coisas e a arranjar 1001 desculpas para justificar que a sua realidade é única no mundo.

Como exemplo, vejamos o framework COBIT 5 da ISACA e os principais “Abuse” e “Evite” em relação aos 7 facilitadores:

Facilitador
Abuse…
Evite…
Princípios, políticas e frameworks
· Procurar princípios, políticas de referência promovidas por associações profissionais ou por empresas da sua indústria.
· Usar sempre uma framework que ajude a servir de mapa às políticas, normas ou procedimentos que se aplicam no seu contexto, mesmo que ainda não estejam documentadas
· Começar a escrever uma política com uma página em branco.
· Ir documentando políticas, normas ou procedimentos à medida das necessidades
Processos
· Utilizar modelos de referência de processos, nomeadamente o COBIT 5 que permite uma visão integrada da governança e gestão, permitindo um mapeamento para as principais boas práticas de mercado
· Acreditar que tem processos que apenas existem no seu sistema de informação.
· Documentar modelos de processos que os stakeholders externos como auditores ou reguladores não conheçam e não consigam mapear para as boas práticas de mercado
Estruturas Organizacionais
· Mapear os processos de a funções de referência e não a owners. Desta forma poderá organizar o sistema de informação em função das necessidades e não das pessoas
· Achar que funções, pessoas e a organização são tudo a mesma coisa
Cultura, Ética e Comportamentos
· Entender as pessoas da sua Organização não são de uma raça diferente. Também são humanos e em grande medida estão expostos aos mesmos estímulos de outros profissionais do seu contexto geográfico ou da sua indústria
· Partilhe e compare as melhores formas de promover um comportamento organizacional aceitável junto dos seus colaboradores
· Achar que a sua Organização não tem Cultura. Dizer que “não temos cultura” também é uma Cultura.
Informação
· Organizar os artefactos de acordo com referenciais e idealmente associados a inputs ou outputs dos processos
· Lembrar a máxima dos auditores “não está documentado não foi feito”!
· Preparar documentação à medida das necessidades.
Serviços, Infra-estruturas e aplicações
· Valorizar as arquiteturas empresariais de referência
· Adotar boas práticas na sua arquitetura: Simplicidade; Reutilização; Decisão sobre modelo de sourcing (build vs. buy); Interoperabilidade; e Agilidade
· Negar à partida a importância do arquiteto na construção de um sistema de informação
Pessoas e competências
· Utilizar modelos de competências de referência. Ajudará a uma melhor comunicação e gestão de expetativas dos seus colaboradores e contribuirá para colaboradores mais eficientes
· Alinhar o plano de formação e capacitação com o modelo de competências e não apenas com as formações disponíveis no mercado
· Utilizar a formação como um instrumento de recompensa dos colaboradores, desligado de um modelo de competências
· Preparar formações internas desalinhadas com as boas práticas de referência

Se existe resistência a adotar boas práticas profissionais lembre-se que é “ bom aprender com os erros, mas melhor ainda é aprender com os erros dos outros ”. As boas práticas são precisamente o resultado da experiência, erros e sucessos, de profissionais e realidades que têm mais em comum com a sua realidade do que você imagina.

Não creio que a filosofia venha a ser introduzida no catálogo de competências de um profissionl de TI , no entanto entender na generalidade estes tipos de situações permitirá a muitos profissionl de TI não acabarem eles próprios como uma das principais personagens da obra de Platão “A alegoria das cavernas”: O Homem das cavernas!

Espero ter ajudado!

Bruno Horta Soares, CISA®, CGEIT®, CRISC , PMP®
"The more you know, the less you no!"

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