Será que necessitamos de tantas competências assim para fazer o trabalho de gestão?
Automotivação, controle emocional, coragem, resiliência, disciplina, determinação, organização e comportamento ético na esfera individual para demonstrar que também cuida de si mesmo. Capacidade de persuasão, empatia, transparecer confiança, cordialidade, eficácia na comunicação verbal e escrita e ainda saber inspirar os outros quando lidera uma equipe de trabalho. Conhecer o mercado, ter visão sistêmica, planejar estratégias, tomar boas decisões, contratar as pessoas certas e perpetuar a empresa como líder do negócio.
Ufa! Para ser gestor nos dias de hoje parece que todos precisamos tirar brevê de super-herói, tomar aulas com o MacGyver – quem possui mais de 35 anos lembra dele muito bem – e ainda pegar emprestado o cinto de utilidades do Batman. Mas será que isso realmente é verdade? Necessitamos de tantas competências assim para alcançar um lugar ao sol?
Na prática, as coisas são um pouco diferentes. Quando você vai a um bom restaurante e pede o menu ao garçom, é comum escolher uma, duas ou três opções entre os pratos do cardápio, levando em conta fatores como o tipo de comida que aprecia, suas restrições alimentares, o preço etc. Da mesma forma, precisamos fazer escolhas profissionais com base em nossas aptidões, interesses e metas. E tanto no restaurante quanto em sua carreira é preciso tomar o cuidado de não se empanturrar ou certamente irá sofrer uma indigestão.
Dias atrás, uma pessoa me fez a seguinte pergunta enquanto estava falando sobre esse assunto num curso: “Até onde vai a loucura do mercado de trabalho exigir coisas novas da gente a cada três meses?” Sinceramente, não sei. A única aposta que faço é a de que o rol de atributos desejáveis vai aumentar ainda mais.
Os requisitos de competência que se exigia de um gerente no início de 1990 já são praticamente os mesmos que você encontra nos anúncios de estágio expostos em editais de universidades. Sim, já requeremos de um jovem com 20 anos de vida aquilo que um profissional levava 20 anos de trabalho para conquistar.
Só que nem sempre as exigências têm sido acompanhadas de justas recompensas. Recordo de uma companhia instalada em Curitiba que buscou contratar pessoas com MBA, inglês fluente e experiência de trabalho fora do país para atuar como teleatendente e ganhando um salário de merreca. Resultado: os candidatos, jovens e com grande potencial, declinavam do processo seletivo assim que ele se afunilava e ainda saíam irritados. A empresa queria gente com currículo de diretor para fazer um trabalho rotineiro e que aceitasse ganhar como aprendiz.
Os estudiosos do mercado de trabalho, as universidades e a imprensa vão continuar apresentando novidades a todo momento, pois esse é o papel deles. A você, enquanto gestor, cabe fazer escolhas e aprender a lidar com a sensação de que ignora coisas cada vez mais e não está plenamente preparado. Aliás, quem está?
Diante desse cenário, permita-me compartilhar alguns insights:
1º) Não se desespere quando seus amigos chegarem dizendo que se inscreveram naquele curso de pós-graduação com nome pomposo que você não tem a mínima ideia do que é, mas afirmam ser vital para seu sucesso como líder. Caminhar com a multidão é um dos principais equívocos que algumas pessoas cometem nas carreiras delas.
2º) Seu superior direto vai lembrar que você deveria ter esta ou aquela competência que lhe falta, pois é comum que ele dirija o olhar para a parte do copo que não está cheia, mesmo quando parece saciado com os frutos do seu trabalho. Além de querer o seu bem, na cabeça dele pode vagar o velho pensamento: “se eu falar que está tudo ótimo, daí o João vai se acomodar”.
3º) Se você sempre busca fazer o melhor, jamais estará plenamente satisfeito. Seria contraditório pensar algo diferente, já que pessoas realizadoras são inquietas.
4º) Você não precisa ser inquieto a vida toda. Assim que conhecer os “atalhos do campo” corra apenas o necessário para alcançar aquilo que você quer. Vida não é só trabalho.