Recentemente passei por uma situação complicada: como explicar para alguém que não é do ramo o tipo de trabalho que eu faço? Eu trabalho como jornalista freelance. Não tenho que bater ponto. Tem dias que não saio de casa. Quando surge alguma pauta eu corro atrás, preparo a matéria e tento vender para algum veículo de comunicação. A maior parte desses veículos é online, então eu posso escrever a matéria e enviar diretamente do meu computador, em casa.
Para a grande parte das pessoas que não trabalha com isso, nem costuma consumir informação online fora do Facebook, isso é coisa de vagabundo.
“Eles te pagam pra escrever esse negócio aí?”, perguntou alguém. Sim, eles me pagam para escrever esse negócio aqui. Por incrível que pareça, tem gente interessada no que eu escrevo. Para um cidadão mediano, aquele que desliga a TV quando começa o jornal e liga de novo no horário em que começa a novela, trabalhar é bater ponto, é ter horário a cumprir, é pegar no pesado. Não dá para acreditar que alguém ganhe dinheiro escrevendo “uns negócios lá, no computador”. É óbvio que o trabalho do jornalista também é pesado, muito mais pesado que a maioria dos ofícios que eu conheço, mas para quem não acompanha o dia a dia, que tem contato apenas com o resultado final, parece algo fácil de ser realizado.
Eu ouvi repetidas vezes: “não entendo como você ganha dinheiro com isso”. Conselho de amigo para você que me lê, não tente explicar. Quanto mais você explica, mais você se enrola.
Cheguei a ouvir o cúmulo de que eu sou sustentado pela minha mãe ou algo parecido.
Acho que ainda vai levar um tempo até que as pessoas compreendam a importância que tem os trabalhos digitais. Mas sempre haverá uma parcela da população que nunca entenderá. E a dificuldade de compreensão só acontece porque essa é uma realidade muito distante para alguns.
Enquanto isso não muda eu vou levando o nome de vagabundo.
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