Publicação

Inteligência artificial auxilia cirurgia e pós-cirúrgico cardiológico

foto de
William Mendes

No Brasil, doenças cardiovasculares lideram as causas de morte e cardiologistas apostam em tecnologias de IA como métodos de prevenção


Desde 2008, as internações por infarto no Brasil aumentaram mais de duas vezes tanto para homens quanto para mulheres, de acordo com dados do Instituto Nacional de Cardiologia (INC). No país, as doenças cardiovasculares lideram as causas de morte, levando os setores de cardiologia dos hospitais a reconhecer a importância de investir em tecnologias como ferramentas auxiliares.

A inteligência artificial está sendo utilizada em diversas etapas do processo médico cardiológico, abrangendo desde diagnósticos precisos até melhorias no pós-cirúrgico. Quando adaptadas para a área médica, essas ferramentas podem analisar extensos conjuntos de dados, reconhecer padrões e aprimorar a detecção de problemas cardíacos. Assim, torna-se viável intensificar a prevenção e evitar a situação mais crítica, que seria a necessidade de um transplante.

Hoje, há uma ampla variedade de modelos de aprendizado de máquina para aprimorar os serviços de cuidados cardíacos disponíveis nos mercados nacional e internacional. O VitalPatch, por exemplo, é um biossensor capaz de monitorar problemas cardíacos causados pela Covid-19 e oferece monitoramento remoto para pacientes pós-alta hospitalar. Outras opções, como a Caption AI, que aprimora exames de ultrassom, e o EchoGo, que automatiza medições ecocardiográficas, proporcionando diagnósticos rápidos e precisos, também estão disponíveis.

Além disso, projetos do Grupo Fleury, utilizam IA para a detecção de hemorragia intracraniana e embolia pulmonar. Simultaneamente, instituições como Google Research, Verily Life Science e Universidade Stanford concentram seus esforços no desenvolvimento de métodos não invasivos para antecipar o risco cardiovascular por meio de exames de retina.

Porém, essas ferramentas não se limitam aos diagnósticos. Um exemplo é a solução Kardia, que acelera a avaliação de eletrocardiogramas (ECG), possibilitando uma resposta rápida do cardiologista em situações de urgência.

Procedimento pioneiro no Brasil

A equipe médica do Instituto do Coração (InCor) de São Paulo, realizou a primeira operação no Brasil e na América do Sul utilizando inteligência artificial durante uma angioplastia. Nesse procedimento minimamente invasivo, um stent é inserido para desobstruir artérias coronárias bloqueadas.

Os médicos utilizam um cateter para chegar à obstrução e colocam o stent, que é expandido por um balão. A inteligência artificial analisa imagens de raio X e tomografia de coerência óptica, fornecendo informações mais precisas para orientar o procedimento. Assim, a IA auxilia na prevenção de procedimentos desnecessários e aumenta a eficácia da intervenção.

"Esse algoritmo faz uma fusão das imagens de raio X e da tomografia e identifica os locais de maior gravidade da obstrução, as características da placa, se há calcificações, as espessuras e o ângulo dessas calcificações, além de avaliar, depois da colocação do stent, se está corretamente expandido", diz o médico do Departamento de Cardiologia Intervencionista do InCor, Carlos Campos, em entrevista à imprensa.

O algoritmo opera através do software Ultreon 1.0, desenvolvido pela empresa farmacêutica Abbott e registrado pela Anvisa em janeiro. Em parceria com o InCor, a Abbott disponibilizou gratuitamente a tecnologia ao centro médico, com a condição de que o instituto participe na formação de profissionais tanto no Brasil quanto no exterior.

Outras áreas também se beneficiam da IA

Além da cardiologia, outras áreas da cirurgia estão colhendo os benefícios da inteligência artificial. A capacidade da IA de processar grandes volumes de dados e realizar análises rápidas a torna uma grande aliada da medicina, seja para diagnósticos ou tratamentos.

O ChatGPT está sendo empregado para a área de cirurgia plástica, por exemplo, auxiliando em procedimentos como a rinoplastia. Ele ajuda na pré-consulta antes da operação, fornecendo pontos importantes para os pacientes, esclarecendo dúvidas e até estimativas do processo de recuperação.

No entanto, o cirurgião plástico e membro da Sociedade Americana de Cirurgia Plástica, Paolo Rubez alerta que a ferramenta, apesar de útil, não pode substituir uma consulta médica e nem a empatia do profissional. “Como qualquer tecnologia, precisamos saber usá-la para tirar vantagens sem riscos”, comenta em entrevista à imprensa.


Comentários