Publicação

Consultório Portal GSTI #12 - Formação em gestão de serviços de TI

foto de
Bruno Horta Soares CONTEÚDO EM DESTAQUE
Consultório Portal GSTI #12


“Trabalho como analista de suporte, estou no último semestre do curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas e estou tentando migrar para a área de Gestão de ti. A princípio, fiz os treinamentos de ITIL e COBIT, porém o preço dessas certificações são bem elevados. A questão que surge é a seguinte: É possível conseguir emprego na área tendo conhecimento do assunto, mas sem ter tirado as respetivas certificações?"

P. Henrique (São Paulo)
Caro leitor,

A associação de “Formação” a “Promoção” desde há muito que está presente na cabeça dos profissionais, seja qual for a indústria, seja qual for a área funcional. É uma relação perigosa que pode correr bem, mas que também já vi resultar em grandes desilusões e, como o leitor refere e bem, desperdício de dinheiro.

Todos os artigos que escrevo, conferências em que participo ou formações que dou normalmente termino com a citação “The more you know, the less you no!”. É comum ouvirmos criticar-se, dizer-se mal ou negar-se à partida uma determinada solução pelo simples medo que a ignorância provoca. Quanto mais conhecemos, menos receamos o desconhecido e mais preparados estamos para identificar a agarrar oportunidades. Esta é a minha convicção e a razão número 1 que, na minha opinião, deve orientar o desenvolvimento de competências de qualquer profissional.

Ultrapassada a questão da importância do conhecimento no desenvolvimento da carreira de qualquer profissional, importa distinguir dois conceitos que tantas vezes são misturados e confundidos: Formação e Certificação.

A formação resulta da necessidade de se conhecer e entender determinado assunto. A formação, como referi anteriormente, permite-nos ser melhor profissionais, mais qualificados e conscientes da necessidade de nos ajustarmos constantemente ao contexto onde desempenhamos as nossas profissões. Tal como na teoria da evolução das espécies de Darwin, os profissionais que vingam e que muitas vezes sobrevivem não são necessariamente aqueles que se consideram mais fortes, mas aqueles que são capazes de se adaptar.

Numa época em que o acesso à internet é cada vez mais generalizado, costumo dizer que só existe um requisito para aprender: vontade! Com o aparecimento dos “Massive Open Online Courses” ou MOOC [1], as barreiras ao conhecimento foram derrubadas, passando a estar acessível a qualquer “humano com vontade”. Quem imaginaria há alguns anos que seria possível aceder, de forma gratuita, a conteúdos de formação e cursos das mais reconhecidas universidades do mundo como MIT, a Universidade de Harvard, de Boston e de Berkeley, entre outras? Hoje é possível e basta aceder a sites como www.edx.org .

Se a formação tem a ver com o desenvolvimento do profissional, já a certificação tem a ver com a forma como esse profissional pode reconhecer e atestar o conhecimento adquirido. Muitas certificações atentam não apenas o conhecimento resultante de uma determinada formação, como reconhecem também a experiência profissional e o compromisso de melhoria contínua (ex. CISA, CGEIT, CISM, CRISC da ISACA [2]). O valor da formação é inquestionável se representar mais conhecimento para o profissional, mesmo que esse conhecimento não se traduza em utilidade, já o valor da certificação resulta do contexto, pelo que a forma sobrepõem-se à substância.

Um dos aspetos determinantes na certificação é a entidade certificadora, sendo o reconhecimento dessa entidade certificadora que confere valor ao certificado. De certa forma a entidade certificadora e o certificado sobrepõem-se ao profissional, sendo uma forma de um profissional procurar um reconhecimento não pela sua individualidade mas por fazer parte de uma determinada comunidade de profissionais. Ter uma certificação ajuda ao sentido de pertença do profissional, mas sobretudo permite ao mercado filtrar em processos como o recrutamento, aquisição de produtos ou serviços, etc.

Como tal, assim como há boas e más formações, também existem boas e más certificações. No entanto, enquanto uma má formação é uma formação que não acrescenta conhecimento ao profissional, uma “má” certificação pode ser uma certificação que, apesar de ser passada por entidades competentes, não é valorizada no contexto em que é utilizada.

Regressando à questão do leitor, se a certificação é ou não um fator crítico para a empregabilidade numa determinada área, a resposta só pode ser dada caso a caso, mercado a mercado, muitas vezes, empresa a empresa. Se tivermos em consideração a área de gestão de serviços de TI, uma qualificação como o ITIL Foundation é, na minha opinião, um “nice to have” para quem está a começar uma carreira, já qualificações como o ITIL Expert ou ITIL Master apenas se justificarão caso o profissional consiga demonstrar a sua necessidade e utilidade específica.

Termino lembrando que por mais valiosas que sejam as certificações obtidas, de nada servirão caso o profissional P. Henrique não seja também ele conhecido e reconhecido na sua comunidade profissional e no mercado onde pretende desenvolver a sua carreira.

Espero ter ajudado,

Bruno Horta Soares, CISA®, CGEIT®, CRISC , PMP®

"The more you know, the less you no!"

Para enviar as suas questões, dúvidas ou comentários para o "Consultório PortalGSTI" deverá utilizar o email: consultorio@portalgsti.com.br

Outros artigos sobre gestão de serviços de TI:
Veja também:

[1] http://pt.wikipedia.org/wiki/MOOC
[2] http://www.isaca.org

Comentários